Atualizado 18/09/2005
Produzir
placas de circuito impresso por processo fotográfico
é um sonho da maioria dos hobistas de eletrônica.
O processo fotográfico sempre foi cercado de
mitos e as poucas empresas ou pessoas que dominam alguma
técnica exploram vendendo kits a preços
elevados.
Este trabalho é resultado do aprimoramento e
da adaptação de algumas técnicas
já conhecidas, e da experiência em laboratório
fotográfico e computação gráfica,
e permitirá em poucos minutos, o preparo da placa
e a confecção do fotolito para produzir
placas com trilhas de até 0.20 mm, o suficiente
para passar duas trilhas entre as ilhas dos
terminais de um CI, e com qualidade que irá surpreender
qualquer amador.
Exemplo
das trilhas feitas por este processo com uma escala
em mm:
Obs:
Trilhas muito finas requer o domínio desta técnica,
comece com layouts mais básicos para não
desanimar.
Diretrizes
que guiaram o meu trabalho:
-
Não depender de produtos que apenas uma empresa
fabrica e/ou que são caros e difíceis
de encontrar.
-
Poder gerar o fotolito pelo computador e com impressoras
jato de tinta de razoável qualidade e não
depender unicamente de fotocópias laser.
-
Não depender unicamente do Sol para expor as
placas e poder contar com uma fonte de luz alternativa
eficiente e de baixo custo.
-
Poder executar todo o processo sem ter que sair de
casa.
- Ser
de baixo custo.
- Contrariando
a tendência de muitos no Brasil, divulgarei
totalmente a técnica após o sucesso
dos testes.
Materiais
e equipamentos necessários:
-
Computador e impressora com boa qualidade (eu uso
uma HP 930).
-
Um software de confecção de placas de
Circuito Impresso (recomendado).
-
Transparência para jato de tinta.
-
Placas virgens de CI.
-
Emulsão foto-sensível para Silk-Screen
e respectivo sensibilizante ( 1 litro custa de R$15,00
a R$23,00 com o sensibilizante e tem validade para
2 anos). Pode ser encontrada em qualquer loja de produtos
de serigrafia. Cola branca a base de PVA, lavável
(tipo Tenaz lavável) também funciona
bem e pode ser comprada em quantidade menor.
-
Pincel de pelo de lontra de 12 mm (pode ser encontrado
facilmente em casas de tintas).
-
Rolo de espuma pequeno, 40 mm
-
Esponja Scotchbrite ou esponja de aço
-
Secador de cabelo
-
Duas placas de vidro um pouco maior que o tamanho
da placa a ser feita
-
Fita crepe
-
Cola Super Bonder ou similar
-
Lâmpada halógena de 500 w ou 1000w com
refletor. É
possível usar o Sol caso não tenha a
lâmpada.
O processo passo a passo:
Produzindo
um bom fotolito:
Eu
recomendo o uso de um software de elaboração
de circuito impresso, pois produz a imagem da placa
em modo vetorial, que independe de resolução
e podem gerar traços muito finos com qualidade
e sem os serrilhados causados pelos pixels dos arquivos
de imagens convencionais ou “mapa de bits”,
além de poupar o trabalho de capturar converter
e tratar layout de outras fontes.
Em muitos casos compensa transcrever o layout de uma
revista ou internet para o software de circuito impresso,
pois permitirá uma qualidade maior e facilidade
para editar. Existem vários softwares de circuito
impresso que têm versões grátis
ou limitadas, mas que permitem gerar e imprimir a imagem
do layout . Tente baixar com algum software P2P o PCBWizard
versão 2.6 que é uma versão beta
porém funcional ou a versão 2.7 . O 'Ares
Lite' também é um bom programa e permite
gerar o layout.
Impressão
e montagem do fotolito:
Deve
se ter o cuidado de imprimir o fotolito invertido (fundo
preto e trilhas brancas) e espelhado (visto pelo lado
dos componentes). Os softwares de CI já têm
este recurso para impressão, mas se o layout
vier de outra fonte preste atenção na
orientação correta e faça a inversão
com o software de imagem que costuma usar.
Imagens
do layout após a impressão em transparência:
Uma
deficiência que percebi na impressão das
transparências por jato de tinta é que
o preto não ficava opaco o suficiente para uma
foto-impressão adequada, e este era o principal
ponto fraco do processo.
Apelando
para um processo semelhante ao que é usado em
algumas técnicas fotográficas, para aumento
de contraste, consegui corrigir esta deficiência.
A solução consistiu em sobreporem duas
ou três imagens até conseguir a opacidade
necessária.
Diferentes tipos de transparências e impressoras
darão resultados diversos e é bom testar
várias combinações e escolher a
que proporcionar o preto mais carregado e opaco. Usar
resolução fotográfica também
não deu bom resultado na minha impressora, deixando
a camada de tinta mais fina e transparente. O melhor
resultado foi obtido com as transparências da
HP que têm a camada de gelatina levemente fosca,
o que deixou a tinta mais opaca de que as transparências
lisas e usando resolução para papel comum
e no modo “ótimo”.
Seque
bem a impressão com o secador de cabelo tomando
cuidado para não esquentar muito e empenar a
transparência. Corte as imagens deixando 0,5 cm
de margem, manipule as transparências pela borda
para não mancha-las. Sobreponha duas imagens
sobre um fundo claro e iluminado e ajuste até
que as imagens estejam coincidentes, cuidadosamente
coloque uma pequena gota de cola Super Bonder entre
as bordas de um dos lados das transparências e
faça uma pequena pressão com os dedos.
Ajuste a imagem do outro lado e vá colando dois
ou três pontos de cada lado, cuidando para que
tudo fique bem plano, faça o mesmo com a terceira
imagem.Após o empilhamento estará pronto
o fotolito de alto contraste.
Montagem
do fotolito com três imagens:
Testando
o fotolito:
O
meu teste de opacidade do fotolito é feito olhando,
através da parte preta do fotolito, para uma
lâmpada de 60w (daquelas brancas), distante uns
5 cm, até que não seja possível
ver o contorno da lâmpada através do preto,
ou que fique bem atenuado.
Teste
de opacidade:
com
uma imagem vê-se perfeitamente a lâmpada
|
com
três imagens obteve-se uma opacidade
adequada.
|
Como eu havia proposto, o processo não deveria
depender apenas de cópias laser e poderia ser
feito todo sem sair de casa, porém se desejar
poupar o trabalho de fazer este sandwich de transparências
imprimia em papel de boa qualidade e mande fazer cópias
a laser em transparência e peça para carregar
bastante no toner. Aqui na minha cidade ainda não
consegui quem faça essas cópias laser
com bastante toner e depois de jogar algum dinheiro
fora com copiadoras que só querem economizar
toner, acabei desistindo das cópias laser.
Preparo
e sensibilização da placa:
Corte a placa pelo menos 1 cm maior que o layout já
que a distribuição do sensibilizante nas
bordas não fica muito regular .
Limpe bem toda a superfície da placa com a scotchbrite
do lado verde ou esponja de aço, lave com detergente,
após enxaguar não toque mais na superfície
da placa e seque-a bem com o secador de cabelo.
Prepare a emulsão em um local com iluminação
fraca e indireta, não é necessário
ficar na escuridão e mesmo uma luminária
de mesa com uma luz fraca e voltada para outro lado
não afetará a emulsão.
Use 5 gotas de sensibilizante para cada 3ml de emulsão
(meia tampa de garrafa pet). Eu utilizo um tubo plástico
de remédio em gotas para dosar o sensibilizante,
já que ele não vem em frasco com gotejador.
Veja abaixo:
Obs:
Os sensibilizantes são tóxicos e devem
ser manuseados com cuidado.
Com
cola tenaz use duas gotas de sensibilizante. Isso dá
para uma placa de 15x15cm ou mais. Misture bem e devagar
para não fazer muita bolha. Aplique a emulsão
na placa com o pincel fazendo movimentos contínuos
de um lado ao outro para não ficar marcas de
pinceladas no meio da placa. Vá distribuindo
mais emulsão até que fique uma camada
homogênea por toda superfície. A camada de sensibilisante deve ficar ligeiramente grossa para que fique mais resistente e não saia no momento da corrosão. É possível fazer a aplicação em duas camadas, aguardando a primeira secar e aplicando outra. Isso garante uma melhor distribuição do sensibilizante.
Ainda
no ambiente escurecido seque bem a placa com o secador
de cabelo no calor médio, cuidando para não aquecer demais pois o sensibilizante é sensível ao calor e também pode levantar bolhas. O ideal é a secagem lenta em local sem iluminação e bem ventilado. Tenho usado o secador de cabelos para apressar o processo mas este apressamento pode acarretar alguns problemas já que o calor pode reduzir a ação do sensibilizante. A pressa é o grande inimigo deste processo.
Pegue o fotolito e coloque sobre a placa preparada
com a tinta voltada para a placa.
Coloque a placa com o fotolito entre os dois vidros
e use presilhas ou fita crepe para prendê-los
firmemente sem obstruir a face do circuito.
Fotolito
pronto para a foto-impressão:
Agora
poderá acender a luz do local e proceder à
foto-impressão:
Eu
utilizava uma lâmpada halógena de 1000w do
tipo usado em filmagens e expunha a placa por 1 minuto
à distancia de 40 cm. No Sol forte do meio dia
o tempo será de três minutos aproximadamente,
porém o Sol varia conforme a condição
atmosférica e o horário e aí só
a experiência irá determinar o tempo correto,
por isso gosto de usar luz artificial porque, além
de funcionar a qualquer hora, terá sempre o mesmo
tempo de exposição. Depois de exposta
a placa pode ser retirada do vidro e o fotolito removido
cuidadosamente. Tome cuidado para
não expor a placa sem o fotolito à luz
forte por muito tempo, pois a emulsão entre as
trilhas ficará endurecida e não sairá
na revelação.
Abaixo está a foto da mesa de luz que montei a partir de uma lâmpada halógena de 500w com refletor,
do tipo usado em jardim e que custa de R$30,00 a R$35,00
e pode ser encontrada em lojas de material elétrico. A exposição
com esta lâmpada é de 3 minutos a uma distância
de 35 - 40 cm
Obs. Atualmente tenho usado apenas esta lâmpada de 500 W e recoloquei o vidro frontal que eu havia removido, pois o vidro ajuda a bloquear o calor emitido pela lâmpada favorecendo a correta impressão do fotolito na placa.
Revelação
da placa:
Coloque
a placa em uma vasilha com água, observe como
a emulsão que não foi exposta vai embranquecendo:
faça movimentos suaves com o rolo de espuma mantendo
a placa sempre molhada...
Vá verificando se existe resíduo de emulsão
entre as trilhas e após a remoção
de todos eles, a placa já pode ser enxaguada
cuidadosamente com mais água limpa (evite colocar
debaixo da torneira, pois o jato poderá remover
trilhas)...
Seque muito bem a placa com o secador de cabelos e verifique
em uma luz forte se está tudo certo. Pequenos
reparos nas trilhas podem ser feitos com caneta de retro-projetor
antes da corrosão.
Quando
a foto-exposição da placa foi correta,
a revelação em água ocorre rapidamente
e a emulsão que não recebeu luz dissolve
com bastante facilidade não levando mais que
um minuto estar revelada e mais uns dois ou três
para remover os resíduos mais difíceis.
O uso de um rolo de espuma ao invés de esponja,
para a lavagem na revelação ajuda a preservar
as trilhas. Diferente da esponja que inevitavelmente
produz muito atrito lateral, aumentando bastante a chance
de descolar algumas delas, o rolo de espuma além
de limpar bem os espaços entre trilhas, pressiona-as
contra a placa reduzindo a chance de danificá-las.
Se
a emulsão sair toda, inclusive as trilhas, é
porque faltou exposição à luz e
se não dissolver com facilidade é porque
teve excesso de luz e ficou polimerizada (insolúvel).
Neste caso limpe a placa e comece novamente.
'A
prática leva à perfeição'
Placa
depois da corrosão:
Para
proteção e acabamento eu costumo polir
as trilhas com um pouco de massa de polir e uma flanela,
depois limpo com alcool os resíduos do polimento,
seco bem e aplico uma camada de verniz transparente
(desses em spray). Uma fina camada de verniz protege
contra a oxidação e não atrapalha
a soldagem. Depois de seco o verniz proceda à
perfuração.
Teste
feito com a imagem de uma fotografia previamente convertida
em preto e branco padão litográfico ou
estampa (somente preto e branco e sem meio tons), e
corrosão parcial do cobre.
Boa
sorte |